quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O ORATÓRIO ANTIGO E POBRE

Tasso da Silveira (1895-1968)*

O oratório antigo e pobre
cheirando a flor murcha e a cera.
Ao lado, uma vela acesa.
Lá dentro, um senhor dos Passos
que me fazia aflição;

tão doloroso e cansado,
tão carregado de sombra,
o corpo todo dobrado,
o joelho tocando o chão.

Em torno, o silêncio... A vela
abria uma vaga auréola
no fundo azul da penumbra.
Eu olhava, de olhos baços...
E, no entanto, não sabia
de que distância Ele vinha,
de que imensa solidão.
Nem mesmo, Senhor, sabia
que Teus pés ainda dariam
tantos passos, tantos passos -
antes que um dia chegasses
ao meu triste coração.

*****
*Para os que não conhecem o poeta curitibano Tasso da Silveira, dele e de sua obra disse Mario de Andrade o que segue:
"Eu não sei nem me interessa saber qual a posição que tomará futuramente na poesia contemporânea do Brasil o claro e belo poeta do ‘Canto Absoluto’. Sei que, no momento, ele representa, um fantasma, quase insuportável, apavorando, castigando a maioria das nossas consciências individuais. (...) Mas que figura atrasada, que fantasma daninho será este em nosso meio intelectual! A dolorosa miséria do mundo contemporâneo atingiu a superficialidade cultural da nossa inteligência, da maneira mais contagiosa, putrefazendo tudo. Dá nojo. Domina a intelectualidade artística brasileira o comodismo mais bastardo. (...) É de semelhante mundo imundo que se ergue a figura capaz de ser igual a si mesma de Tasso da Silveira, entoando o seu ‘Canto Absoluto’. E os seus poemas, tão mansos, silenciosos, soam como um clamor". (Mario de Andrade, O empalhador de passarinho, Martins Editora, São Paulo, p. 75).


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