Tasso da Silveira (1895-1968)*
O
oratório antigo e pobre
cheirando
a flor murcha e a cera.
Ao
lado, uma vela acesa.
Lá
dentro, um senhor dos Passos
que
me fazia aflição;
tão
doloroso e cansado,
tão
carregado de sombra,
o
corpo todo dobrado,
o
joelho tocando o chão.
Em
torno, o silêncio... A vela
abria
uma vaga auréola
no
fundo azul da penumbra.
Eu
olhava, de olhos baços...
E,
no entanto, não sabia
de
que distância Ele vinha,
de
que imensa solidão.
Nem
mesmo, Senhor, sabia
que
Teus pés ainda dariam
tantos
passos, tantos passos -
antes
que um dia chegasses
ao
meu triste coração.
*****
*Para os que não conhecem o poeta curitibano Tasso
da Silveira, dele e de sua obra disse Mario de Andrade o que segue:
"Eu não sei
nem me interessa saber qual a posição que tomará futuramente na poesia
contemporânea do Brasil o claro e belo poeta do ‘Canto Absoluto’. Sei que, no
momento, ele representa, um fantasma, quase insuportável, apavorando,
castigando a maioria das nossas consciências individuais. (...) Mas que figura
atrasada, que fantasma daninho será este em nosso meio intelectual! A dolorosa
miséria do mundo contemporâneo atingiu a superficialidade cultural da nossa
inteligência, da maneira mais contagiosa, putrefazendo tudo. Dá nojo. Domina a
intelectualidade artística brasileira o comodismo mais bastardo. (...) É de
semelhante mundo imundo que se ergue a figura capaz de ser igual a si mesma de
Tasso da Silveira, entoando o seu ‘Canto Absoluto’. E os seus poemas, tão
mansos, silenciosos, soam como um clamor". (Mario de Andrade, O empalhador de passarinho, Martins
Editora, São Paulo, p. 75).
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