sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O HOMEM VIVE EM UM ESTADO DE PERMANENTE INSATISFAÇÃO

"O clima de facilidade e de desfrute em que vivemos, ao multiplicar em todos os planos as necessidades, que aumentam sempre mais rapidamente que as possibilidades de as satisfazer, socavam a base de nossa capacidade de experimentar verdadeiras alegrias e verdadeiros sofrimentos. Para muitos de nossos contemporâneos, não resta mais que a mediocridade de uns pequenos prazeres e de uns pequenos aborrecimentos, avantajando, ademais os segundos aos primeiros com grande diferença, pois o homem, obcecado pela excessiva busca da felicidade, vive em um estado de permanente insatisfação que o faz indiferente ao que possui e avido do que lhe falta. A fome, provocada e mantida artificialmente, se transforma em incurável saciedade. Daí uma frustração em duas fases: “tenho que obter isso custe o que custar”; e depois: “Não era nada de mais; busquemos outra coisa”. Há que se concluir que não se separa impunemente a busca da felicidade do conjunto das atividades, dos deveres e das virtudes, que são a trama de toda existência autentica. Os grandes personagens aos que a humanidade reconhece como seus modelos e guias preocuparam-se, por acaso, alguma vez de sua pequena felicidade individual? Obedeceram à sua vocação sem se esquivar dos riscos nem das desgraças que as acompanha e, às vezes, chegando até o sacrifício de sua vida; e a felicidade, na medida em que é possível neste mundo, lhe foi dada por acréscimo. Pois a vida é indivisível; se em nome do famoso “direito à felicidade” com que nos martelam os ouvidos, se tenta dissolvê-la, se chega ao irrisório resultado de ficar-se só com o liquido".
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Gustave THIBON. El equilibrio y la armonía, Belacqva, 2005.


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