"O
clima de facilidade e de desfrute em que vivemos, ao multiplicar em todos os
planos as necessidades, que aumentam sempre mais rapidamente que as
possibilidades de as satisfazer, socavam a base de nossa capacidade de
experimentar verdadeiras alegrias e verdadeiros sofrimentos. Para muitos de
nossos contemporâneos, não resta mais que a mediocridade de uns pequenos
prazeres e de uns pequenos aborrecimentos, avantajando, ademais os segundos aos
primeiros com grande diferença, pois o homem, obcecado pela excessiva busca da
felicidade, vive em um estado de permanente insatisfação que o faz indiferente
ao que possui e avido do que lhe falta. A fome, provocada e mantida
artificialmente, se transforma em incurável saciedade. Daí uma frustração em
duas fases: “tenho que obter isso custe o que custar”; e depois: “Não era nada
de mais; busquemos outra coisa”. Há que se concluir que não se separa
impunemente a busca da felicidade do conjunto das atividades, dos deveres e das
virtudes, que são a trama de toda existência autentica. Os grandes personagens
aos que a humanidade reconhece como seus modelos e guias preocuparam-se, por
acaso, alguma vez de sua pequena felicidade individual? Obedeceram à sua vocação
sem se esquivar dos riscos nem das desgraças que as acompanha e, às vezes,
chegando até o sacrifício de sua vida; e a felicidade, na medida em que é
possível neste mundo, lhe foi dada por acréscimo. Pois a vida é indivisível; se
em nome do famoso “direito à felicidade” com que nos martelam os ouvidos, se
tenta dissolvê-la, se chega ao irrisório resultado de ficar-se só com o
liquido".
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