Tasso da Silveira
Roto e descalço, vai o
pobrezinho,
de olhar faminto, pela
longa rua...
Nos farrapos da blusa, as
mãos fanadas esconde,
as mãos que a sombra de
um carinho nunca aflorou...
E vai
devagarinho.
E as pessoas que passam
apressadas
interrogam com o olhar,
em que flutua
um desejo, uma dor, uma
agonia...
... e ninguém, oh!
Ninguém que lhe sorria
(tão só no mundo!) – pela
longa rua...
Oh! Que risadas claras de
crianças
Nos salões de ouro! –
(Nos salões, que linda festa não vai...)
– Se ele pudesse Vê-las...
Mendigozinho... Em vão o
corpo avanças...
É tão alta a janela! Não
a alcanças...
E vem a noite...
Acendem-se as estrelas...
E o coitadinho, na
tristeza infinda
Daquela atroz, imensa,
aguda mágoa,
Fica-se a olhar – olhos
boiando em água –
A árvore de natal do
céu... Tão linda.
*****
Tasso da Silveira. In “A União”, n. 65, 1926, p. 7.
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