sábado, 23 de dezembro de 2017

NATAL

Tasso da Silveira

Roto e descalço, vai o pobrezinho,
de olhar faminto, pela longa rua...
Nos farrapos da blusa, as mãos fanadas esconde,
as mãos que a sombra de um carinho nunca aflorou... 
E vai devagarinho.
E as pessoas que passam apressadas
interrogam com o olhar, em que flutua
um desejo, uma dor, uma agonia...
... e ninguém, oh! Ninguém que lhe sorria
(tão só no mundo!) – pela longa rua...
Oh! Que risadas claras de crianças
Nos salões de ouro! – (Nos salões, que linda festa não vai...)
– Se ele pudesse Vê-las...
Mendigozinho... Em vão o corpo avanças...
É tão alta a janela! Não a alcanças...
E vem a noite... Acendem-se as estrelas...
E o coitadinho, na tristeza infinda
Daquela atroz, imensa, aguda mágoa,
Fica-se a olhar – olhos boiando em água –
A árvore de natal do céu... Tão linda.
*****
Tasso da Silveira. In “A União”, n. 65, 1926, p. 7.

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