O amor, a simpatia, a intuição, e
nunca a inteligência, têm sido os caminhos seguros, pelos quais os grandes
educadores como Pestalozzi e D. Bosco conseguiram penetrar na alma misteriosa
da criança.
É necessário, porém, que essa afeição
mutua não seja realizada através de uma familiaridade excessiva. A adesão
afetiva dos alunos não deve ser obtida à custa de uma diminuição da autoridade
do mestre. Mesmo porque a doçura e a benevolência não excluem a gravidade e a
firmeza. A bondade e o afeto se conciliam perfeitamente com o respeito e a
autoridade. E sobretudo é preciso não esquecer que o mestre deve ser o exemplo
vivo das virtudes que ele deseja despertar em seus alunos. Pois a criana na sua
tendência irreprimível de tudo imitar, quase sempre encarna no mestre o seu
ideal de personalidade. Daí o cuidado imenso que devemos ter com as atitudes
que assumimos diante de nossos alunos. A criança é um ser sensível e vibrátil e
um gesto nosso de impaciência ou de irritação poderia sacrificar o amor e a
admiração de que somos alvos. E o mestre que cai do seu pedestal, dificilmente
reconquista o seu lugar no coração dos alunos.
É indispensável, portanto, que
saibamos aliar, em nossas atitudes e em nossos gestos, a afeição ao respeito, a
bondade à justiça, a doçura à firmeza, a serenidade à energia, a benevolência à
autoridade. Nessa aliança sutil reside todo o segredo da eficácia educativa e
disciplinadora.
Em suma, procuremos fazer do amor a
grande força motivadora da educação e da disciplina. Mas tenhamos a humildade
de reconhecer que só podemos educar na medida em que nos educamos e que, sem
que nos disciplinemos a nós mesmos, jamais conseguiremos disciplinar nossos
alunos.
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Theobaldo MIRANDA DOS
SANTOS. O problema da disciplina na
pedagogia moderna. Revista A Ordem, n. 115, maio de 1941, pp. 452-453.