"Dias há
em que a gente fica triste com o ofício que tem. Imagino como não deve ser
enervante para as cozinheiras, nesses dias, a atmosfera das frituras e a
companhia das caçarolas; como não deve ser monótono para o ferreiro o gemido
das bigornas; como não deve ser triste, muito triste, o vai-e-vem da agulha na
mão picada da velha costureira. Cada ofício é uma prisão. Se a gente tem o
espírito largo dos santos a prisão vira clausura de amor e torna-se recanto de
paz; mas onde falta a largueza de coração, o ofício é ofício, e a prisão é
prisão: as coisas ficam sendo o que são pelo bagaço. E o cárcere do ofício é
duro, asfixiante, enervante."
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Gustavo
CORÇÃO. "Não matar", In. A Ordem, Novembro de 1953.
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