Tasso da
Silveira
Mulher brasileira,
é a ti que eu
falo.
A ti que
obscuramente realizas
a mulher
valorosa
da sabedoria
bíblica;
a que é mais
preciosa do que as pérolas das extremidades do mundo,
a em quem
serenamente confiou
o coração do
esposo,
a que recolhe
a lã e o linho
e os tece com
as suas mãos velozes,
a que se
levanta noite ainda
para ordenar
o longo trabalho do dia inteiro,
a que provou
o azeite
e constatou
que ele era bom,
e não deixará
extinguir-se pela noite adiante
a chama do
seu candeeiro
a que atende
o mendigo à porta,
a que se
revestiu de força e graça
e riu-se do
dia alvorescente,
a que recebeu
dos filhos
à hora do
despertar
a saudação
feliz...
Mulher
brasileira: guardarás
ao sopro do
vento uivante
esta aureola
de sonho e de pureza?
Vejo que
não...
Vejo que
invade o teu coração desprevenido
um vago
fluido de inquietação.
Vejo que já
tens ao lábio
o amargor de
uma queixa,
vejo que
foges
ao teu
destino de fecundidade...
Mulher
brasileira,
a mais tocada
de Deus,
a mais tocada de graça maternal
entre todas
as mulheres do mundo:
aprendeste a
fazer do amor o gozo efêmero.
Eras como uma
terra primitiva
sobre cujo
mistério
passou,
fecunda, a sombra
do espírito
criador,
Passou
fecunda, envolta
na pulsação
do humano amor.
E no espelho das
águas mansas de tua alma
refletiram-se
céus distantes e infinitos,
e no húmus do
teu corpo
a vida
germinou e floresceu.
Eras como uma
terra adormecida
que a esse
frêmito novo despertou
para a
plenitude da alegria
- a alegria
de criar...
Mas, depois,
esqueceste a transcendência
do teu
destino.
E distendeste
o corpo fatigado
e olhaste a
vida em torno,
e hauriste um
sorvo de lascívia,
e achaste
que o teu
esforço heroico te roubava
a doçura das
horas passageiras.
E, então,
tomaste a decisão mortal:
Estancar em
teu ser
as nascentes
do ser...
Mulher
brasileira, com o sacrilégio desse gesto,
profanaste o
santuário
dos destinos
raciais.
Mulher
brasileira, a mais tocada de graça maternal
entre todas
as mulheres do mundo
não foi
apenas ao transitório sacrifício
das volúpias
misérrimas
que fugiste.
Foi às
sagradas determinações
da Vida
foi ao sonho
de Deus...
*****
*Parte IV do
poema “A exortação”, publicado na Revista A Ordem, n.31, setembro de 1932, pp.
191-192.
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