terça-feira, 31 de julho de 2018

O DIA DA CARMELITA

MADRE MARIA JOSÉ


...Estando encerradas, peleamos por El. (Cam. De Perf. C. III, 60).

Na calma da madrugada
Ouve-se uma matracada,
Depois outras e outras mais...
Levanta-te, ó Carmelita
Olha quanta gente aflita
Nas prisões, nos hospitais...

Os Missionários
Sobem ao altar;
Os operários
Vão acordar...
Dá-lhes coragem,
Dá-lhes vigor,
- Qual doce aragem –
O teu amor.

Vai ao coro antes da aurora,
Na oração suplica e chora
Para que o bem vença o mal;
E depois, no santo Ofício,
De ti faze o sacrifício
Mais inteiro, mais total

Já as criancinhas
Se vão erguer...
Ah! Pobrezinhas!
Que irão fazer?
Precisa a infância
De tanta luz...
Pede-a com anciã,
Pede-a a Jesus.

Corre a haurir orça e energia
Nas fontes da Eucaristia,
E depois deixa-a correr,
- Como tranquila ribeira
Que refresque a terra inteira
Dando a todos de beber.

Entra nos lares,
Nos “Ateliers”
Transpõe os mares,
Ninguém te vê;
Cai – como orvalho –
Sobre as missões,
Sobre o trabalho
Das conversões.

Junto à Mãe do Céu bendita,
Dia e noite, ora e medita
Na santa Lei do Senhor;
Para os ministros da Igreja
Serem fortes na peleja,
Em redor de seu Pastor.

São sal da terra,
Do mundo luz;
Nada os aterra,
Sua arma é a Cruz.
Dá-lhes bravura
Na luta cruel,
Sendo mui pura,
Humilde e fiel.

Quantas virgens consagradas
Vivem no mundo, ilibadas,
- Como lírios num paul...
Vôa a dar-lhes força e alento,
Percorrendo num momento
A terra, do norte ao sul.

- “Anjos amados,
Lutai, sorei,
Como soldados
Do Cristo-Rei,
Vossa irmã pede
Por todas vós,
Roga e intercede...
Ah! Não estais sós!”

Sempre imolada e serena,
Faze quanto a Regra ordena,
Sem nenhum temor servil.
Fez-te “Mãe” a Virgindade:
Ganha o pão à Humildade,
Sobretudo ao teu Brasil...

Com Deus expande
Teu coração...
Oh! quanto é grande
Tua missão!
Tu representas,
Na Igreja, “o Amor”:
O mundo alentas
Com teu ardor.

Já bem tarde, em tua cela,
Com Maria, junto d’Ela,
Sob seu materno olhar,
No duro leito adormece,
Que também teu sono é prece,
Teu dormir inda é amar...

Ao vir a morte,
Sublime, em paz,
Guerreira, forte,
Não temerás.
Ganha a vitória,
Irás, veloz,
Inda na Glória
Rogar por nós...

(“Ya, hija, hábeis visto la gran empresa que pretendemos ganar; que tale habremos de ser para que en los ojos de Dios  del mundo no nos tengan por muy atrevidas? Esta claro que hemos menester trabajar mucho...) [Camino de Perección, Cap. IV, 1].



terça-feira, 24 de julho de 2018

OS PRIMEIROS PATRIOTAS QUE TEVE A NOSSA TERRA


“Que afeto ou que virtude – interrogava um grande bispo brasileiro – mais credor das bênçãos de uma religião fundada na caridade, que o amor da pátria, que os antigos chamavam Charitas patrii soli, o amor da sua independência, dos seus direitos, e da sua grandeza, sentimento irresistível, que o mesmo autor da natureza gravou no fundo dos nossos corações?
Os livros santos estão cheios de sublimes cânticos, e magnificas descrições das brilhantes solenidades com que a nação celebrava, e transmitia aos seus vindouros, a lembrança das memoráveis épocas da sua liberdade, assim como dos patrióticos suspiros, com que os cativos da Babilônia se compraziam até na recordação das mesmas pedras da sua infeliz pátria – ‘Quoniam placuerunt servis tuis lapides ejus, et terrae ejus miserabuntur’” (Dom Romualdo Seixas, arcebispo da Bahia, metropolitano do brasil – Pastoral constituindo santificado o dia dois de julho [26 de junho de 1830]).

Realmente. A própria Virgem Santíssima entoou no Magnificat um cântico de ação de graças ao Senhor pelos benefícios derramados sobre o povo de Israel. O Divino Salvador quis, em pessoa, pregar primeiramente aos seus compatriotas, sobre cuja desolação e ruína derramou lágrimas, entrando em Jerusalém, nas vésperas da sua Paixão. “Espargiu seu sangue, disse Bossuet, com um olhar particular para a sua nação, e oferecendo o grande sacrifício que devia ser a expiação de todo o Universo, quis que o amor da pátria tivesse também aí o seu lugar” (Bossuet – Politique tirée de l’Ecriture sainte, L. I, artigo VI.)

(...)

País descoberto, povoado, civilizado à sombra a cruz, não admira tenha tido o Brasil por primeiros patriotas os seus primeiros missionários apostólicos. Tão abandonada que até o nome perdera, adotou generosamente a Companhia de Jesus a nova terra, para criá-la ao seio, não como nutriz mercenária, mas com entranhas piedosíssimas de mãe. Ainda mais que o poder régio, soube ela educá-la, imprimindo-lhe ao caráter esse cunho indelével que representa até hoje a maior segurança da realização dos seus gloriosos destinos. Manoel da Nobrega, Aspilcueta Navarro, José de Anchieta, eis aí entre outros muitos os nomes dos primeiros patriotas que teve a nossa terra.
Pouco importa não tivesse aberto os olhos sob as fulgurações do Cruzeiro o heroico missionário, braço forte dos Sás, a respeito do qual disse com razão o protestante Southey: “não há ninguém a quem deva o Brasil tantos e tão permanentes servoços”, ou aquele outro grande condutor de povos, a um tempo missionário, poeta, historiador, pedagogo e linguista, fundador de cidades, que consumiu cinquenta anos de existência a labutar sem tréguas, pela pátria que adotadra.
Extremeciam-na todos, como própria, essa nova terra e levantavam clamores contra a desafeição geral dos colonos.
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Eugênio Vilhena de Moraes. O Patriotismo e o Clero no Brasil, Revista do IHGB, Tomo 99-Vol. 153, 1926, p. 113-114.