quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A FAMÍLIA COMO LAÇO DE AFETO


“A família é o laço de afeto que dá à sociedade em que vivemos o caráter de pátria, e quando essa ideia se agita em nossa mente e em nosso coração, é que nele se agitam, dando consistência e substantividade ao conceito, as noções e as lembranças do lar, e as reminiscências da infância envoltos nas carinhosas repreensões do pai e os jogos alegres dos irmãos e as lagrimas e abraços da mãe”.
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Pe. LUIS CHALBAULD (S.J). La familia como forma típica y transcendental de la constitución social vasca, p. 45.


sábado, 3 de novembro de 2018

SINTOMAS DE UMA SOCIEDADE SEM ESPERANÇA


“Ao não promover a esperança sobrenatural, a escola abandona o aluno em dois extremos igualmente lamentáveis: o desespero e a presunção. A delinquência juvenil, o suicídio, são sintomas de uma sociedade sem esperança”.
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Frei Alberto García Vieyra O.P. Política Educativa, Buenos Aires: Librería Huemul, 1967, p. 125.

A ESCOLA COMO LUGAR RESERVADO À CONTEMPLAÇÃO


“Nossa palavra Escola - Sjolé em grego, schola em latim - não significa outra coisa senão ócio, e este, como vimos, não tem a ver com as pausas laborais, com as folgas ou as horas livres entre uma tarefa e outra. É a atitude da alma pela qual a alma vê, eleva-se e reencontra-se com a Ordem Criada. A atitude superior e personalíssima que para além dos afazeres diários nos revela a harmonia da existência, às vezes silenciosa, mas sempre presente onipotência de Deus.
Com efeito, a Escola possui, por natureza, um significado cultual, religioso e até sacro. É por eminencia o lugar reservado à contemplação, ao cuidado da vida interior e à elevação da inteligência. O lugar onde se cultiva e preserva o divino que habita em cada criatura, a imagem e semelhança do Criador. Na Escola é onde o homem se religa com Deus buscando a Sabedoria, e encontra no Mestre o exemplo de um lento e repousado exercício das potencias da alma”.
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Antonio Caponnetto. Pedagogía y Educación: la crisis de la contemplación en la Escuela Moderna, Colección Ensayos Doctrinarios, Buenos Aires: Cruz y Fierro Editores, 1981, pp. 16-17.


A ORAÇÃO


O mais importante é a oração: eis que chega o tempo de orar e de agradecer.
Certa mãe que pressentiu a chegada de um novo ser disse-me que deveria rezar por ele, para que todos os latejos do seu coração pertencessem ao filho. Fiquei surpreendido e a pensar nas razões por que toda a mãe deve rezar pelo bem do seu filho nesta vida e no reino da graça. Talvez porque todo o universo esteja compreendido na oração da mãe que reza.
Donna Música, depois da batalha de Monte Branco que o marido venceu, ajoelhou-se na igreja de São Nicolau, pensando no filho que trazia no seio e rezou:
“Ó meu Deus, que bem se está neste lugar e que
alegria estar aqui convosco! Em parte nenhuma se
poderia estar melhor.
“Não é preciso dizer nada. Basta trazer-vos o meu
rude ser e ficar em silêncio aos vossos pés.
“O segredo que se oculta no meu coração, só Vós
o conheceis. Só Vós compreendeis o que é dar a vida.
Só Vós partilhais comigo deste segredo da minha
maternidade:
“Uma alma que faz outra, um corpo que alimenta
outro corpo, em si mesmo, da sua substância.
“O meu filho está em mim e ambos estamos unidos
a Vós.
“E juntos rezamos por este pobre povo desorientado,
ferido e despedaçado que· me rodeia para que se
deixe curar e compreenda os conselhos do inverno, da
neve e da noite.
“Coisas que noutros tempos eu não teria compreendido,
antes de ter em mim este filho, quando a
minha alegria estava fora de mim”.
Que a cólera, o medo, a dor e a vingança,
abram caminho às mãos carinhosas da neve e da
[noite.
(Paul Claudel)
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Cardeal MINDSZENTY. A Mãe, 2ª ed., Lisboa: Aster, pp. 95-96.


O VALOR DO SILÊNCIO


Um grave autor, escrevendo um livro sobre o martírio diz que o casamento é um, pelas mil consumições que consigo acarreta, antes, diz ele, tenho por certo, de muitos mártires que veneramos sobre os altares terem sofrido muito menos, do que sofrem muitos casados e casadas. Terão tribulações, diz São Paulo, terão tribulações. Quando aquele felicíssimo e castíssimo consórcio de Maria e de José as teve, e tamanhas, como foram cruéis suspeitas e desconfianças, pensamentos de divórcio, mágoa da perda do menino Jesus, e tantas outras, quanto mais agora o casamento dos pecadores?
Portanto, quem se casa abrace-se logo, com a sua cruz, e quando vier qualquer sofrimento, vá dizendo: Eu já sabia. Para isto é que me casei. E fique em sossego, paciente, resignado, possuindo sua alma na paz.
Portanto, quem se casa abrace-se logo, com a sua cruz, e quando vier qualquer sofrimento, vá dizendo: Eu já sabia. Para isto é que me casei. E fique em sossego, paciente, resignado, possuindo sua alma na paz.
Evitem-se com todo o cuidado entre casados altercações vergonhosas, polémicas ásperas, palavras descorteses ou de desprezo; antes tratem-se sempre com suma atenção, respeito, polidez e carinho. Que todo azedume, cólera, indignação, rixa, maledicência, e toda malícia seja banida dentre vós, diz S. Paulo; e ainda: Seja toda palavra boa, útil, edificante, própria a dar a graça aos que a escutam. (Efésios IV, 31, 29.1)
Antes quebrar por si e ter a paz, do que sustentar vãos caprichos, que metem a desordem na família. O segredo de manterem-se os casados em santa concórdia e constante harmonia é suportarem um ao outro os seus defeitos, não apurando agravos, antes relevando muita cousa e, calando, quando a prudência manda calar.
A ira é, muitas vezes uma faísca; mas diz o sábio: Se soprais a faísca, sairá dela um fogo ardente; se cuspis em cima, se apagará; e a boca é que faz uma e outra cousa; (Ecl. XXXVIII, 14) assim a língua acende ou abafa as contendas. Se não lhes pondes cobro, a faísca torna-se logo brasa, a brasa labareda, a labareda incêndio. As palavras vão se precipitando, como levadas de engenho em se lhe abrindo a corrediça. Guardar, pois, silêncio é o melhor alvitre.
Os que acharam este segredo vivem contentes e em paz no seu estado. Referem os autores, a este propósito, o caso gracioso de uma coitada, que se foi queixar mui magoada ao seu Padre espiritual dos desabrimentos do marido. "Logo que me entra em casa, disse, é uma tormenta desfeita de impropérios e de injúrias; renovam-se todos os dias estas cenas violentas, com grandes clamores, que atordoam e escandalizam a vizinhança.
Ando consumida, já me é insuportável a vida; dizei-me, Padre, o que devo fazer em tão angustiosa situação?"
O Padre, depois de ouvi-la com toda paciência, foi buscar um frasco de água e lho entregou dizendo: "Esta água fará o milagre. Todas as vezes que teu marido entrar colérico, e começar a maltratar-te de palavras, toma um pouco desta água na boca, e aí a conservarás até que ele se tenha calado. Verás que a água que te dou tem singular virtude".
Fez a mulher exatamente como lhe dissera o Padre, e observou que depois que tomou a água na boca, a ira do marido como que se amainou mais depressa. No dia seguinte, mesmo proceder, mesmo resultado. As cóleras do marido foram-se tornando cada vez menos duradouras e menos frequentes, até que enfim cessaram de todo, e reinou a paz no pobre casal.
Foi a mulher ao Padre, toda jubilosa, agradecer o portentoso efeito daquela água.
"A água, mulher, só teve uma virtude, e não pequena", respondeu o Padre: "foi a de fazer-te calar; pois em quanto a tinhas na boca, não podias proferir palavra. A este silêncio, e só a ele, deves o benefício da paz e concórdia que logras com teu marido. "
Se quando um se agastasse, o outro se calasse, nunca haveria dissenções nas famílias.
 *****
D. Antônio de Macedo Costa (1830-1891). O Livro da família: ou explicação dos deveres domésticos segundo as normas da razão e do Cristianismo. 3ª ed., São Paulo: Paulinas, 1945, pp. 85-86.


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A FAMÍLIA FECUNDA: UM PEQUENO MUNDO


A experiência demonstra que habitualmente a vitalidade e a unidade de uma família estão em relação natural com a sua fecundidade. Quando a prole é numerosa, ela vê o pai e a mãe como dirigentes de uma coletividade humana ponderável pelo número dos que a compõem como – normalmente – pelos apreciáveis valores religiosos, morais, culturais e materiais inerentes à célula familiar. O que nimba de prestígio a autoridade paterna e materna. E, sendo os pais de algum modo um bem comum de todos os filhos, é normal que nenhum destes pretenda absorver todas as atenções e todo o afeto dos pais, instrumentalizando-os para o seu mero bem individual. O ciúme entre irmãos encontra terreno pouco propício nas famílias numerosas. O que, pelo contrário, facilmente pode surgir nas famílias com poucos filhos. Também nestas últimas se estabelece não raras vezes uma tensão pais-filhos, em resultado da qual um dos dois lados tende a vencer o outro e a tiranizá-lo. Os pais por exemplo podem abusar da autoridade, subtraindo-se ao convívio do lar para utilizar todo o tempo disponível nas distrações da vida mundana, deixando os filhos relegados aos cuidados mercenários de baby-sitters ou dispersos no caos de tantos internatos turbulentos e vazios de legítima sensibilidade afetiva.
E podem tiranizá-los também – é impossível não mencionar – por meio das diversas formas de violência familiar, tão cruéis e tão frequentes na nossa sociedade descristianizada. Na medida em que a família é mais numerosa, vai-se tornando mais difícil o estabelecimento de qualquer dessas tiranias domésticas. Os filhos percebem melhor quanto pesam aos pais, tendem a ser-lhes por isso gratos, e a ajudá-los com reverência – quando chegado o momento – na condução dos assuntos familiares.
Por sua vez, o número considerável de filhos dá ao ambiente doméstico uma animação, uma jovialidade efervescente, uma originalidade incessantemente criativa no tocante aos modos de ser, de agir, de sentir e de analisar a realidade quotidiana de dentro e de fora de casa, que tornam o convívio familiar uma escola de sabedoria e de experiência, toda feita da tradição comunicada solicitamente pelos pais, e da prudente e gradual renovação acrescentada respeitosa e cautamente a esta tradição pelos filhos. A família constitui-se assim num pequeno mundo, ao mesmo tempo aberto e fechado à influência do mundo externo. A coesão desse pequeno mundo resulta de todos os factores acima mencionados, e esteia-se principalmente na formação religiosa e moral dada pelos pais em consonância com o pároco, como também na convergência harmônica das várias hereditariedades físicas e morais que, através dos pais, tenham concorrido para modelar as personalidades dos filhos.
(....)
Esse pequeno mundo diferencia-se de outros pequenos mundos congêneres, isto é, das outras famílias, por notas características que lembram em modelo pequeno as diferenciações entre as regiões de um mesmo País, ou os diversos países de uma mesma área de civilização. A família assim constituída tem habitualmente como que um temperamento comum, apetências, tendências e aversões comuns, modos comuns de conviver, de repousar, de trabalhar, de resolver problemas, de enfrentar adversidades e de tirar proveito de circunstâncias favoráveis. Em todos estes campos, as famílias numerosas possuem máximas de pensamento e de procedimento corroboradas pelo exemplo do que fizeram os seus antepassados, não raras vezes mitificados pelas saudades e pelo recuo do tempo.
*****
Plínio Corrêa de Oliveira. Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, pp. 94-95.


A PRIMAZIA DA VIDA EXTERIOR SOBRE A VIDA INTERIOR


Costumamos dividir o mundo moderno em Velho e Novo Mundo; em mundo totalitário e mundo democrático; países para lá e para cá da Cortina de Ferro; mundo socialista e mundo capitalista; Oriente e Ocidente; ou mais amplamente ainda, em mundo moderno e mundo eterno.
Todas essas divisões são mais ou menos legítimas e a última se aproxima muito da que tomamos por base deste ensaio, o mundo exterior e o mundo interior. Aqui, porém, prescindimos da própria noção de tempo e colocamos o homem perante os dois mundos que constituem a sua própria natureza completa, pois o mundo interior não é uma opção, mas uma síntese. E o homem completo, isto é, o homem normal, é aquele que vive interiormente a sua vida exterior e não sepulta em si, egoisticamente, a sua vida interior.
É certo, entretanto, que uma das marcas do nosso tempo é a primazia da vida exterior sobre a vida interior, quando não o esmagamento desta por aquela. O maior perigo que corremos, hoje em dia - em face do curso que vai tomando o progresso da técnica, com a absorção do homem pela Máquina, e a hipertrofia das instituições políticas e econômicas, com a absorção do homem pelo Estado, pelo Partido ou pela Fábrica -, o maior perigo é precisamente essa anulação da personalidade pela extroversão sistemática do homem e de sua vida profunda.
Um biologista materialista, JEAN ROSTAND, resumindo as conclusões do seu próximo livro, Ce que je crois, rasga os seguintes horizontes para a ciência biológica de amanhã, que vai tentar fazer aquilo com que BERNARD SHA w sonhava ao dizer que "what can be done with a wolf, can be done with a man"! Isto é, se foi possível fazer de um animal feroz como o lobo um animal manso como o cachorro, também será possível fazer de um ser imperfeito, como o homem de hoje, um ser perfeito, como o homem de amanhã. Esquecido, o sofista do século XX, de que foi o homem que fez do lobo um cachorro e não o próprio lobo. E, portanto, só Deus, dizemos nós os que não julgamos que o homem seja um deus, poderia mudar a natureza humana, como só a Sua graça pode aperfeiçoá-la, ajudando a própria virtualidade dessa natureza. É possível que venham a ser um fato esses novos horizontes que os biologistas abrem às intervenções do homem sobre a natureza, inclusive a própria natureza humana. JEAN ROSTAND chega a crer que "aparentemente se poderá prolongar, no futuro, de modo sensível a duração da vida humana...; outros muitos problemas serão resolvidos: determinar-se-á à vontade o sexo das crianças... talvez a ectogênese ou gravidez de bocal (como ALDOUS HUXLEY já previra, com humor, no seu This brave New World). Pelo emprego dos hormônios ou de medicamentos apropriados ou ainda por uma correção cirúrgica dos centros nervosos, modificar-se-ão a personalidade, o temperamento, o caráter. Suscitar-se-ão artificialmente aptidões e virtudes" (sic).
Esse biologista materialista, que acredita serem as virtudes consequências dos hormônios, como VIRCHOW, no século passado, fazia do bem e do mal secreções como o açúcar ou o vitríolo, não fecha, entretanto, os olhos aos perigos dessa ditadura da técnica biológica.
"Será difícil'' diz ele, "impedir que a coletividade não abuse do seu poder em relação àqueles que a constituem. Haverá sempre um equilíbrio difícil de alcançar entre a preocupação do interesse coletivo e o respeito da liberdade individual. Não valeria a pena que a natureza fizesse de cada indivíduo um ser único, para que a sociedade reduzisse a humanidade a não ser mais do que uma coleção de iguais."
Ou, como nós diríamos, não valeria a pena que Deus criasse o homem à sua imagem e semelhança, para que o homem se reduzisse apenas à semelhança e imagem dos animais. E que tivesse colocado no coração humano o amor da liberdade para que ele procurasse apenas novas formas de escravidão.
A libertação do homem não está nas coisas.
Está em si próprio. Não está na vida exterior. Está no seu mundo íntimo. Não está na técnica biológica ou física. Está na virtude. O progresso da humanidade não depende da perfeição de suas máquinas, mas da perfeição daqueles que as souberem manejar.
A técnica não é um bem ou um mal em si. É uma arma de dois gumes, que serve cegamente ao bem e ao mal, conforme a luz dos olhos de quem a manejar.
***** 
Alceu AMOROSO LIMA. Meditação sobre o mundo interior, Rio de Janeiro: Agir, 1955, pp. 9-13.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O PAPEL DA MÃE NO LAR E NA FORMAÇÃO DOS FILHOS


“O futuro de um filho é obra da mãe” (Napoleão)

“Feliz o homem a quem Deus deu uma Santa Mãe!”, disse Lamartine. Apesar dos desvios de sua imaginação, Lamartine conservou sempre a lembrança da educação cristã que lhe deu sua mãe. Como disse Joseph de Maistre: “Se a mãe tomou como um dever imprimir na fronte de seu filho o caráter divino, pode-se estar praticamente seguro de que as garras do vício nunca o apagará inteiramente”.
“Quantas outras mães imprimiram profundamente na alma dos filhos o respeito, o culto, a adoração de Deus, de Quem elas eram para eles, pela pureza de vida, a imagem viva!
Como mãe, a mulher cristã santifica o homem-filho; como filha, ela edifica o homem-pai; como irmã, ela aperfeiçoa o homem-irmão; como esposa ela santifica o homem-esposo”.

A “raiz” da santificação

“Eu quero fazer de meu filho um Santo”, dizia a mãe de Santo Atanásio.
Graças mil vezes, meu Deus, por haver-nos dado por mãe uma Santa”, exclamaram por ocasião da morte de Santa Emília seus dois filhos, São Basílio e São Gregório Nazianzeno.
“Quem nos deu um São Bernardo e o fez tão puro, tão forte, tão abrasado de amor por Deus? Sua mãe, Aleth.
Mais próximo de nós, Napoleão disse: “O futuro de uma criação é obra de sua mãe”.
Pasteur afirmou: “Oh, meu pai e minha mãe, que vivestes tão modestamente, é a vós que eu tudo devo! Teus entusiasmos, minha valorosa mãe, tu me transmitiste. Se eu associei a grandeza da ciência à grandeza da pátria, é porque eu estava impregnado dos sentimentos que me havias inspirado”.
Alguns que o felicitavam por ter o gosto da piedade, o Santo Cura d’Ars disse: “Depois de deus, isto se deve à obra de minha mãe”.
“Quase todos os santos fizeram remontar as origens de sua santidade à sua própria mãe”.

A “raiz” de grandes personalidades

“É sobre os joelhos da mãe – disse Joseph de Maistre – que se forma o que há de mais excelente no mundo”.
“Ela é no lar essa chama resplandecente de que fala o Evangelho, distribuindo sobre todos a luz da Fé e o ardor da caridade divina. A ela incumbe vivificar na família a ideia da soberania de Deus, nosso primeiro princípio e nosso último fim, o amor e o reconhecimento de que devemos ter por sua infinita bondade, o temor de sua justiça, o espirito de religião que nos une a Ele, a lei dos castos costumes, a honestidade nos atos e a sinceridade das palavras, a dedicação e ajuda mútua, o trabalho e a temperança”.

.... e de homens de qualquer condição social

“Na família assalariada – disse Augustin Cochin – a figura dominante é a da mãe. Tudo depende de sua virtude e acaba por modelar-se de acordo com ela. Ao marido compete o trabalho e as provisões do lar, e à mulher os cuidados e a direção interna. O marido recebe, a mulher reserva. O marido alimenta seus filhos, a mulher os educa. O marido é o chefe da família, a mulher é seu elo de união com ela. O marido é a honra do lar, a mulher sua benção”.

Mãe Católica: “raiz” do heroísmo

“O Visconde de Maumigny escreveu: “Devemos a nossas mães e irmãs o fundo de honra e de devota e cavalheiresca dedicação que é a vida de França. Nós lhes devemos a Fé católica. Discípulas da Rainha dos Apóstolos e dos Mártires, as mães fizeram passar seus corações aos corações dos filhos...”.
“Maria Santíssima, o modelo das mães, lhe ensinou como se sacrifica um filho único a Deus e à Igreja. Ao ouvir as narrações dessas emulações sublimes (este texto foi redigido em 1862, quando os Zuavos Pontifícios derramavam seu sangue para defender a Santa Sé), Pio IX comentava: “Não! A França que produziu tais santas não perecerá jamais”!
A primeira vez que a heroica viúva de Pimodan [Georges de Pimodan, 1822-1870] viu o Papa, não lhe disse: “Oh, Santo Padre, devolvas meu marido!”, mas sim: “Oh, dizei que ele está no Céu”! E quando Pio IX respondeu: “Não reo mais por ele”, ela não perguntou nada mais, pois entendeu que era viúva de um mártir, e isto bastava.
“Em Castelfidardo os Zuavos Pontifícios combatiam sob os olhos de suas mães, presentes em seu pensamento e entre as paredes do santuário onde a Rainha dos Mártires engendrou ao Rei dos Mártires. Todos, enquanto marchavam contra o inimigo, repetiam esta frase de um deles: “Minha alma a Deus, meu coração à minha mãe, meu corpo a Loreto”.
À mãe deles, a Maria Santíssima, que a todos inspirava, reverte a honra da batalha. Como outrora os Cruzados, e mais tarde os Vandeanos, foi sobre os joelhos das mães que eles aprenderam a morrer por Deus, pela Igreja e pela Pátria”.
*****
Mons. Henri DELASSUS (1836-1921). L’Esprit Familial dans la Maison, dans la Cité et dans l’État, Société Saint-Augustin.


terça-feira, 16 de outubro de 2018

A VIDA INTIMA DA FAMÍLIA VAI PERDENDO O ENCANTO...


Muito pouco se vive hoje na família. Mais se vive para a cidade, para o Estado. A vida intima da família vai perdendo o encanto, a real e profunda intimidade de outros tempos, pois a cidade penetra na família, a vida exterior é levada até ao interior do lar, pelo rádio e principalmente pela televisão, e assim o que havia de típico e peculiar nas mansões domésticas vai também desaparecendo.
Aparentemente a variedade de preocupações, de assuntos na ordem do dia, de novidades ao alcance de todos torna a vida mais variada. Mas no fundo esta novidade esconde uma tremenda monotonia: a vida é igual em toda parte, é trepidante mas artificial, intensa mas inautêntica, sempre ocupada mas cada vez mais angustiosa.
O indivíduo, unidade anônima perdida no seio da multidão, tem algumas horas para passar em casa. Mas em sua casa - ou no seu apartamento - não sente a tradição familiar, nem pode saborear o ambiente formado em tempos idos pelos hábitos nascidos da convivência doméstica.
Como a cidade é a mesma em toda parte, tendo desaparecido a comuna ou o município onde a grande metrópole moderna estendeu os seus tentáculos, também as famílias se vão padronizando nesse nivelamento igualitário, cujo principal agente é o Estado centralista e planificador.

José Pedro GALVÃO DE SOUSA (1912-1992). Política e Teoria do Estado, São Paulo: Saraiva, 1957, pp. 60-61.


A ESPERA


“E a terra não havia suspeitado que o mais importante que nela havia era a espera dos que esperavam. A terra, aturdida pelo vão e confuso ruído de suas guerras e de suas discórdias, não havia notado que uma coisa importante se realizava em sua superfície; e esta coisa importante era o silêncio dos que esperavam na solenidade profunda do desejo. A terra não sabia destas coisas; e se voltassem a ocorrer hoje, tampouco as saberia”.

Ernest HELLO (1828-1885). Fisonomía de Santos: Simeón y Ana la Profetisa.


AS ESTRELAS


“Assim me encontrava uma noite
Contemplando as estrelas,
Que me parecem mais belas
Quanto mais se é desgraçado
E que Deus as tenha criado
Para consolar-se nelas”.

José HERNÁNDEZ (1834-1886). Martín Fierro, I, IX, 1445-1450.


terça-feira, 9 de outubro de 2018

O FIM DA EDUCAÇÃO CRISTÃ É A PERFEIÇÃO MORAL


"À luz do realismo integral do Cristianismo, a educação é a formação total da personalidade do educando. A educação é processo vital resultante de fatores externos e internos, de forças naturais e espirituais, da ação consciente do educador e da vontade livre do educando. A educação não se confunde com o simples desenvolvimento ou com a mera adaptação. Não se resume numa preparação utilitária para fins exclusivos ou numa formação de aspectos parciais da personalidade, através do desabrochamento integral das suas virtualidades físicas, intelectuais e morais. A educação cristã procura desenvolver no homem toda a perfectibilidade de que ele é capaz no sentido de prepará-lo para a ordem da natureza e para a ordem da graça, para a vida natural e para a vida sobrenatural. Para isso, é necessário que a formação física do educando se subordine à formação intelectual e está à formação moral. Pois o fim supremo da educação cristã é a perfeição moral simbolizada pela personalidade viva de Jesus Cristo."
***** 
THEOBALDO Miranda Santos. Noções de filosofia da educação, 9ª edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1962, p. 56.


sábado, 6 de outubro de 2018

DA NECESSIDADE DE NOVAS ESCOLAS CATÓLICAS


“Não hesiteis, não desanimeis; para defender a alma das crianças, para manter a religião na sociedade, continuai a sustentar escolas, fundando novas, quanto puderdes. Empregai nisso o vosso dinheiro, e, se não tiverdes outro lugar, ou vos faltar liberdade, abri escolas em vossas casas, como nós o fizemos no Vaticano".

São Pio X, citação extraída do Jornal "A Cruz", n.10, de 9 de março de 1913, p. 2.


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

A CAVALARIA NÃO MORRE


“Contam-nos que as cruzadas foram oito em número. Sim, é certo que oito estão terminadas. Mas a nona começa logo após e continua... E continua não nos campos de batalha, e os cavaleiros de França não lutam mais com armas de aço, senão pela palavra e pela pena, pelo sacrifício, pela oração e pelo exemplo. Quando um homem toma a si o cuidado de nossas almas, se esforça por dar-lhes mais pureza, mais fortidão, maior amor a Deus, maior caridade para com o próximo, mais fidelidade ao dever, esse homem é um cavaleiro.
(...)
Fazem parte dessa cavalaria aqueles que, na paróquia, nem a pobreza, nem os remoques, nem a ameaça podem arredar de suas práticas religiosas, e bem assim aqueles que repelem uma injúria dirigida a Nosso Senhor Jesus Cristo".
*****
René BAZIN (1853 – 1932). La douce France.



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O GENUÍNO CARÁTER DA FAMÍLIA


É bem deplorável fato, e cheio de funestíssimas consequências para o futuro, o esforço que se está fazendo para destruir as verdadeiras tradições, o genuíno caráter da família, o princípio mesmo de sua organização e estabilidade, pondo-a fora da ação da Igreja e do Cristianismo. Privada do influxo sobrenatural da Religião, a família tende a deperecer; afrouxam-se os laços que a enfeixam num todo harmônico.
Aquela casta, inviolável e perpétua união dos esposos; aquele cuidado estremecido da educação da prole; aquele corresponderem os filhos à ternura de seus progenitores rodeando-os de afetos extremosos, prestando-lhes os mais atentos serviços, obedecendo-lhes com amorosa prontidão, e honrando-os até a extrema velhice com um respeito religioso, que parece transformar-se em culto; aquela amável convivência dos irmãos a respirar encanto que embalsamam a melhor quadra da vida, e que nos lembramos ainda com tantas saudades, quando já sozinhos, nos aproximamos do termo; aquela dedicação e singelos afetos de servos e domésticos; enfim aquele suavíssimo viver em família, aquela vida de casa tão boa, tão serena, sem sobressaltos, e cheia de tão sublime e terna poesia; onde estão? onde se encontram já? A torrente das ideias novas vai tudo levando de rojo, envolvendo no sumidouro comum do sensualismo enervante, do brutal egoísmo. Restam apenas, aqui e aí alguns nobres tipos da família cristã; como essas colunas, que se elevam ainda no meio da vasta solidão só para dar testemunho de um magnífico edifício arruinado.
A raiz corrompida, vasa no tronco e nos ramos da árvore o seu fatal veneno. Por igual modo, da família pervertida pelo espírito da impiedade moderna, estão dimanando os males que lamentamos em todas as esferas sociais.
Se queremos que floresçam os bons costumes, se queremos que esta árvore da pátria dê frutos, não pêcos, mas sazonados, de paz, de ordem, de verdadeira liberdade, de sólidos progressos, de próspera, gloriosa e fecunda civilização, é acudir com o remédio à fonte do mal, é tratar já e já da raiz, que se embeba em bons sucos, achegando-se-lhe terra congruentemente adubada.
Todas as outras reformas são ilusórias, se não começamos pela família.
O esforço que está fazendo a Revolução para destruí-la está dando à medida do esforço que devemos fazer para restaurá-la. 
Arejemos o lar. 
Façamos entrar nele as puras emanações do Cristianismo.
Deus tem ali o seu lugar. Ele só pode fazer ali reinar as alegrias puras, a suave resignação, o casto pudor e todas as virtudes que enobrecem e encantam a vida.
Procuremos restaurar sobre suas verdadeiras bases a família cristã, como nô-lo recomenda com tão alta sabedoria o Vigário de Jesus Cristo, o glorioso Pontífice Leão XIII em suas primeiras Encíclicas, recebidas com veneração e aplauso por toda a cristandade.
 *****
Dom Antônio de Macedo Costa (1830-1891). O Livro da família: ou explicação dos deveres domésticos segundo as normas da razão e do Cristianismo. 3ª ed., São Paulo: Paulinas, 1945, pp. 2-4.


terça-feira, 2 de outubro de 2018

SANTA TERESINHA ENSINA-NOS A GRANDEZA DO COTIDIANO


“Uma criança cresce no meio dos seus brinquedos, entre bonecas e bugigangas. É uma criança gentil, porém, como todas as outras, coração cheio de felicidade comunicativa. Desde cedo tem uma vontade constante de repartir essa felicidade com os outros. Seu coração se enaltece com os sacrifícios, se enriquece de virtudes heroicas. Porque? Não há resposta, senão esta: porque Deus é bom, porque o homem tem uma finalidade elevada e porque cada dia é um novo prodígio de luz e de misericórdia.
O poeta brasileiro compreendeu esse segredo divino. Transmitindo a sua alegria à nossa alma, sua voz jubilosa nos dá uma profunda prova da universalidade da comunhão no êxtase, que é a comunhão dos santos. Lutas, sofrimentos e vitória da Igreja, que é isso senão a felicidade em preparo, a posse de amanhã?
Uma criança achou o máximo dessa felicidade, o máximo que é dado a uma criatura humana alcançar neste mundo, uma criança fraca e tuberculosa, sem êxtases extraordinários, sem vícios nem excepcionais penitencias. Ela conseguiu descobrir o segredo do sublime cotidiano.
Nada de glórias, de honras ou de genialidade; Santa Teresinha procurava só a felicidade das obrigações simples, dos sacrifícios simples, do espirito de infância.
Santa Teresinha ensina-nos a grandeza do cotidiano”.
*****
Trecho do artigo do poeta católico holandês ANTON VAN DUINKERKEN, publicado em 8 de janeiro de 1938, a propósito do aparecimento da tradução francesa do ensaio do diplomata e grande poeta RIBEIRO COUTO (12.03.1898 — 30.05.1963) sobre SANTA TERESINHA.


sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A ADMIRÁVEL PEDAGOGIA DA LITURGIA

Toda a Liturgia bem entendida é admirável Pedagogia.
Desde o ambiente dos templos "admiravelmente educativos na linguagem da liturgia e da arte", até as menores cerimônias do culto, tudo, através dos sentidos, atinge a inteligência, conforta a vontade, move à prática das virtudes individuais e sociais, figuradas e simbolizadas de maneira tão sugestiva no aparato luminoso dos sagrados ritos.
Oxalá fosse mais conhecida a Liturgia Católica, e obedecidas suas sugestões tão plenas de sentido! As torres das igrejas a apontar a finalidade última, e as naves a recordar os perigos da travessia, os altares simbolizando Cristo, o modelo supremo; a pureza das ceras, a brancura dos linhos, o vário dos ornatos, o perfume do incenso, - evocando e estimulando as virtudes cristãs; a união com Jesus e entre os cristãos - lembradas em tantos ritos, máxime na oblação do Sacrifício e no ósculo da paz; a humildade, a obediência, a pureza, o amor de Deus, o esquecimento das coisas da terra, - tudo encontramos compendiado na Liturgia Católica, somado ainda a todos os ensinos dogmáticos, cuja lição nela também aprendemos, com doçura e com proveito.
A Liturgia é a Pedagogia ativa, que ensina com a apresentação intuitiva das verdades de crer e dos princípios de agir. "Se os cristãos se compenetrassem bem do espirito das festas (litúrgicas) não ignorariam nada do que devem saber, porquanto encontrariam nessas festas todos os bons ensinamentos e, ao mesmo tempo, todos os bons exemplos". (1)

1) Bossuet, citado por D. Bauduin, Vida Litúrgica, p. 52. Cfr. FIad, L"éducation par  la liturgie.
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ALVES DE SIQUEIRA, Antonio (Cônego). Filosofia da Educação, Petrópolis: Vozes, 1948, p. 75.