Gustave Thibon (1903-2001)
"O sorriso não é algo devido,
senão um favor, uma graça, a forma de converter um encontro em luz".
É a hora do descontentamento em todas
suas formas, desde a lamentação resignada até a sublevação manifesta. Velhos e
jovens se conciliam para denegrir o presente: uns sentem nostalgia do passado e
outros colocam toda sua esperança nas mudanças que aportará o porvir. Em todos
os graus da escala social, as pessoas lamentam de sua sorte e se esgotam em críticas.
Em suma, ninguém está contente com nada, salvo de si mesmo, pois, quem aceita
sua parte de responsabilidade nos males que deplora?
Ao sair de uma reunião impregnada por
completo deste ambiente taciturno, o azar de uma leitura me fez reparar neste
pensamento de Confúcio: "Mais vale acender uma luz, por pequena que seja,
que maldizer a escuridão ".
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A falta de vela
Um amigo a quem comentei esta sentença
me respondeu: "De acordo, mas Confúcio viveu em uma sociedade
descentralizada, de tipo agrícola e artesanal, onde o indivíduo podia fazer
algo para remediar as desgraças da época. Quando anoitecia, se acendia uma
vela; se fazia frio, podia-se recorrer a lenha nos bosques mais próximos e
havia uma chaminé em cada casa para acender o fogo. Mas, o que se pode fazer
hoje em dia em uma grande cidade quando um apagão de energia nos priva
simultaneamente de luz e de calor?".
Igualmente, que recursos tem a
iniciativa individual contra males como a inflação, o desemprego, uma greve dos
correios ou de ferroviários? O mal adquiriu um caráter coletivo que exige
igualmente remédios coletivos, quer dizer, medidas de conjunto que correspondem
em grande parte aos poderes públicos. Daí a politização geral dos problemas
sociais. "Que espera o governo para...?", diz espontaneamente o homem
que passa pela rua. Em uma palavra, estamos em uma situação em que as pessoas,
por falta de vela, não tem outro recurso senão maldizer a noite até que hasta
que se solucione o problema da iluminação pública.
Reconheço — e este é o reverso
angustioso de nossa técnica, as vezes libertadora pela potência dos meios que
põe a nossa disposição, e alienante pelo excesso de centralização — que o homem
moderno tem cada vez mais domínio sobre os elementos externos de seu destino. O
que favorece por uma parte a passividade, pois se espera que as soluções venham
de fora, e de outra o afã reivindicativo, o desejo de receber sempre mais. O
indivíduo pode, sem embargo, acender uma vela nesta noite, ao menos
estabelecendo o contato humano, tão reduzido hoje pela concentração e o
anonimato tecnocrático. Nós lamentamos que a tecnocracia imponha aos homens
relações quase unicamente funcionais. Mas depende de cada um de nós remontar
este obstáculo. Ofereço como prova dois exemplos opostos.
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Intercâmbio luminoso
Me encontrava faz alguns meses em uma
oficina de correios. Uma anciã que desejava enviar uma carta disse timidamente
a funcionária: "Esqueci meus óculos, teria a bondade de preencher meus
dados?". A empregada, com um olhar em que se unem a frieza pessoal e a
indiferença administrativa, responde irritada: "Crê que tenho tempo para
fazer seu trabalho? Olhe o impresso e verá que diz: preencher pelo
usuário". Ainda estou vendo a pobre anciã retirar-se (depois pude
ajudá-la), andando mais devagar e com o ânimo gelado por esta acolhida glacial.
Outra oficina de correios da mesma
cidade. Detrás de um dos guinches mais frequentados, uma jovem tranquila,
amável, recebe a cada um com um sorriso espontâneo e acolhedor, desconhecido
inclusive entre os comerciantes mais zelosos, porque tal sorriso se dirige não
ao cliente, senão ao ser humano. Após fazer os envios postais aos quais tinha
direito pagando as tarifas usuais, levei comigo esse sorriso inesperado que não
era algo devido, senão um favor, uma graça. E, ademais, me senti disposto a
sorrir aos interlocutores que devia encontrar durante a jornada, pois o bom
humor, a atenção, a afabilidade, provocam reações em cadeia do mesmo modo que a
indiferença ou a animosidade.
Este elemento de graça e gratidão (as
duas palavras têm a mesma etimologia) confere as relações mais superficiais uma
qualidade única e insubstituível. Graças a ele, o encontro anônimo de dois
peões no tabuleiro social pode converter-se em um intercâmbio luminoso e vivo
entre duas presenças. Este clarão de simpatia, que está ao alcance de todos em
qualquer momento, ao dissipar a escuridão, nos evita maldizer.
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