Se lestes,
- já não quero dizer os Evangelhos – mas, simplesmente a Imitação de Cristo, ao
tempo em que vivíeis alheio à fé; e depois voltastes a lê-la ao começo de vossa
conversão; e depois, anos mais tarde, quando o habito da oração perene já em
muito vos aliviou de vós mesmo; e depois, mais tarde ainda, quando as duras
provações abriram rasgões no chumbo de vosso peito, deixando penetrar no mais
fundo de vós mesmo o ar puro do sentimento de Deus; e depois, quase ao fim,
quando a experiência do mundo já foi bastante para que lhe sentísseis o amargor
total e para que dele vos desprendêsseis – tereis lido, de fato, cinco livros
diferentes: cinco livros absolutamente diferentes uns dos outros. E fico nos
limites estreitíssimos da minha própria experiência. Porque, sem dúvida, para
os santos, a cada novo grau de santidade alcançado, corresponderá uma
diversíssima compreensão desse livro multíplice. E como a Imitação, há muitos
outros livros de substancia proteica, se assim me posso exprimir.
Ao lado
destes, é evidente, há também os livros que, a sucessivas leituras, só
revelarão de cada vez melhor a sua vacuidade.
Há cidades,
há países, que são como aqueles primeiros livros. Revelam-se “outros”, se
andamos para a frente, a cada nova etapa da nossa caminhada, mesmo que não
tenham passado por nenhuma transformação material. Como com relação àqueles
livros, podemos explorá-los em profundidade, à proporção que formos, com a
experiência vivida adquirindo mais agudeza de penetração.
Tais
livros, tais cidades, tais países são os que superam sempre, em substancia de
sentido, a nossa força de compreensão, a cada período novo de nossa vida.
Por isto
mesmo, de certo ponto em diante, são analogias de Deus.
Apenas,
Deus nos supera, em substancia de sentido, infinitamente. Por mais
vertiginosamente que caminhemos para ele, Ele será sempre outro para nós, -
através de toda a longa eternidade.
*****
Tasso
da SILVEIRA. Artigo publicado na Revista A Cruz, n. 45,1938, p. 12.
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