"Já
não se preocupam as famílias com a formação do caráter e dos costumes de seus
rebentos: ou elas lhes buscam estabilidade e segurança, em lugar de insuflar a
vitalidade que lhes permitiria chantar-se no real e traçar o próprio caminho na
vida, ou então os abandonam sem guias ou apoio, o que dá no mesmo: ante o temor
supersticioso do futuro, procuram salvaguarda, proteção e defesa contra os
riscos e os golpes da fortuna. Não há como ser diferente numa sociedade privada
de modelos e de elites que os encarnem. Para os adolescentes desvitalizados, o
diploma aparece como a única saída, porque ele é o caminho mais fácil, não
obstante o peso dos programas. Eles não dão a menor importância – e como
poderiam? – aos fatores essenciais à vida: o caráter, a retidão da vontade, a
honra, o dever, o senso moral e estético, etc., mas julgam somente a
inteligência formal – o diploma é que faz o homem. Segue-se que a sociedade
moderna se inclina, sob a força desse peso, para o mandarinato. A idolatria do
pergaminho é sinal indubitável da perda da invenção. Já que não existe a fonte
de renovação que é o exemplo, perde-se a faculdade da retomada. Não suscitam
mais êmulos os santos, os gênios e os heróis, e os “grandes homens” não passam
de criações aventadas pela publicidade. Apesar desse turbilhão, a sociedade moderna
tende à estagnação.
A conclusão
a que chegamos, após análise tão alongada, será breve e clara: uma civilização
não pode durar sem elites verdadeiras. É preciso que a sociedade as recupere,
caso não queira submergir na barbárie".
*****
Marcel
de CORTE. L'homme contre lui-même.
Éd. de Paris, 2005; pp. 107-137. (Tradução: Editora Permanência)
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