“A misericórdia espiritual, qualquer que seja o modo por que se exercita e
quaisquer que sejam as necessidades a que, amorosa, se dirige (dores,
sofrimentos, erros, etc.) deve tender a dar ao próximo toda a ajuda possível, a
fim de que construa nele, com a graça de Deus, o homem cristão de pensamento e
de vontade. E a tal homem começamos a fabricá-lo, cada um dentro de si, tão-só
quando agradecemos a Deus todas as situações, mesmo de extrema dificuldade, em
que nos venhamos a encontrar; quando aceitamos de Deus incluso o látego e imploramos
dele e dos outros misericórdia para que nos seja dado todo o auxílio espiritual
e material para poder superar a prova. Uma misericórdia que se propõe tornar a
vida ‘fácil’ a todos e, pior ainda, eliminar todos os males e os sofrimentos
dos homens, dentro destes limites, não é cristã; é ainda o nosso orgulho,
aquele que considera o homem capaz de vencer por si só e definitivamente o mal
e a sua indigência, isto é, capaz de anular por si as consequências do pecado.
Ao contrário, a primeira misericórdia para conosco e para com os outros é a de
ter sempre presente a nossa indigência e a de lhe aceitar as consequências: não
a de desafiar com desprezo a dor e a morte, mas a de amá-las o que é amar a
Cruz. Correr imediatamente em auxilio de quem tem necessidade do nosso socorro
espiritual, mas dizer-lhe também imediatamente: ‘aceita e faz a vontade de
Deus; unido a ti, carrego com as tuas penas’. Esta é a misericórdia cristã”.
*****
Michele
FEDERICO SCIACCA. A Hora de Cristo, Aster/Flamboyant: Lisboa, São Paulo, p.
193.
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