Muito pouco
se vive hoje na família. Mais se vive para a cidade, para o Estado. A vida intima
da família vai perdendo o encanto, a real e profunda intimidade de outros
tempos, pois a cidade penetra na família, a vida exterior é levada até ao
interior do lar, pelo rádio e principalmente pela televisão, e assim o que
havia de típico e peculiar nas mansões domésticas vai também desaparecendo.
Aparentemente
a variedade de preocupações, de assuntos na ordem do dia, de novidades ao
alcance de todos torna a vida mais variada. Mas no fundo esta novidade esconde
uma tremenda monotonia: a vida é igual em toda parte, é trepidante mas
artificial, intensa mas inautêntica, sempre ocupada mas cada vez mais
angustiosa.
O
indivíduo, unidade anônima perdida no seio da multidão, tem algumas horas para
passar em casa. Mas em sua casa - ou no seu apartamento - não sente a tradição
familiar, nem pode saborear o ambiente formado em tempos idos pelos hábitos
nascidos da convivência doméstica.
Como a
cidade é a mesma em toda parte, tendo desaparecido a comuna ou o município onde
a grande metrópole moderna estendeu os seus tentáculos, também as famílias se
vão padronizando nesse nivelamento igualitário, cujo principal agente é o Estado
centralista e planificador.
José Pedro GALVÃO DE SOUSA (1912-1992). Política e
Teoria do Estado, São Paulo: Saraiva, 1957, pp. 60-61.
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