terça-feira, 16 de outubro de 2018

A VIDA INTIMA DA FAMÍLIA VAI PERDENDO O ENCANTO...


Muito pouco se vive hoje na família. Mais se vive para a cidade, para o Estado. A vida intima da família vai perdendo o encanto, a real e profunda intimidade de outros tempos, pois a cidade penetra na família, a vida exterior é levada até ao interior do lar, pelo rádio e principalmente pela televisão, e assim o que havia de típico e peculiar nas mansões domésticas vai também desaparecendo.
Aparentemente a variedade de preocupações, de assuntos na ordem do dia, de novidades ao alcance de todos torna a vida mais variada. Mas no fundo esta novidade esconde uma tremenda monotonia: a vida é igual em toda parte, é trepidante mas artificial, intensa mas inautêntica, sempre ocupada mas cada vez mais angustiosa.
O indivíduo, unidade anônima perdida no seio da multidão, tem algumas horas para passar em casa. Mas em sua casa - ou no seu apartamento - não sente a tradição familiar, nem pode saborear o ambiente formado em tempos idos pelos hábitos nascidos da convivência doméstica.
Como a cidade é a mesma em toda parte, tendo desaparecido a comuna ou o município onde a grande metrópole moderna estendeu os seus tentáculos, também as famílias se vão padronizando nesse nivelamento igualitário, cujo principal agente é o Estado centralista e planificador.

José Pedro GALVÃO DE SOUSA (1912-1992). Política e Teoria do Estado, São Paulo: Saraiva, 1957, pp. 60-61.


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