É bem deplorável
fato, e cheio de funestíssimas consequências para o
futuro, o esforço que se está fazendo para destruir as verdadeiras tradições, o
genuíno caráter da família, o princípio mesmo de sua organização e
estabilidade, pondo-a fora da ação da Igreja e do Cristianismo. Privada do
influxo sobrenatural da Religião, a família tende a deperecer; afrouxam-se os
laços que a enfeixam num todo harmônico.
Aquela casta, inviolável e perpétua união dos
esposos; aquele cuidado estremecido da educação da prole; aquele corresponderem
os filhos à ternura de seus progenitores rodeando-os de afetos extremosos, prestando-lhes os mais
atentos serviços, obedecendo-lhes com amorosa prontidão, e honrando-os até a
extrema velhice com um respeito religioso, que parece transformar-se em culto; aquela amável convivência dos irmãos a respirar encanto que embalsamam a melhor
quadra da vida, e que nos lembramos ainda com tantas saudades, quando já sozinhos,
nos aproximamos do termo; aquela dedicação e singelos afetos de servos e
domésticos; enfim aquele suavíssimo viver em família, aquela vida de casa tão
boa, tão serena, sem sobressaltos, e cheia de tão sublime e terna poesia;
onde estão? onde se encontram já? A torrente das ideias novas vai tudo levando
de rojo, envolvendo no sumidouro comum do sensualismo enervante, do brutal
egoísmo. Restam apenas, aqui e aí alguns nobres tipos da família cristã; como
essas colunas, que se elevam ainda no meio da vasta solidão só para dar
testemunho de um magnífico edifício arruinado.
A raiz corrompida, vasa no tronco e nos ramos da
árvore o seu fatal veneno. Por igual modo, da família pervertida pelo espírito
da impiedade moderna, estão dimanando os males que lamentamos em todas as
esferas sociais.
Se queremos que floresçam os bons costumes, se
queremos que esta árvore da pátria dê frutos, não pêcos, mas sazonados, de paz,
de ordem, de verdadeira liberdade, de sólidos progressos, de próspera, gloriosa
e fecunda civilização, é acudir com o remédio à fonte do mal, é tratar já e já
da raiz, que se embeba em bons sucos, achegando-se-lhe terra congruentemente
adubada.
Todas as outras reformas são ilusórias, se não
começamos pela família.
O esforço que está fazendo a Revolução para
destruí-la está dando à medida do esforço que devemos fazer para restaurá-la.
Arejemos o lar.
Façamos entrar nele as puras emanações do Cristianismo.
Arejemos o lar.
Façamos entrar nele as puras emanações do Cristianismo.
Deus tem ali o seu lugar. Ele só pode fazer ali
reinar as alegrias puras, a suave resignação, o casto pudor e todas as virtudes
que enobrecem e encantam a vida.
Procuremos restaurar sobre suas verdadeiras bases
a família cristã, como nô-lo recomenda com tão alta sabedoria o Vigário de
Jesus Cristo, o glorioso Pontífice Leão XIII em suas primeiras Encíclicas,
recebidas com veneração e aplauso por toda a cristandade.
Dom Antônio de Macedo Costa (1830-1891). O Livro da família: ou explicação dos deveres domésticos segundo as
normas da razão e do Cristianismo. 3ª ed., São Paulo: Paulinas, 1945, pp. 2-4.
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