“(...) cultivai o sentimento da honra
e fazei o bem.
Cultivai a honra. Exortação altamente
cristã que eu fui colher nos lábios de um grande Papa, "Agnosce, christiane, dignitatem tuam"
; lembra-te, cristão, da tua dignidade .
Acima de tudo, pequeninas
bandeirantes, prezai a vossa dignidade de cristãs. Esta nobreza do coração é
infinitamente mais preciosa que a aristocracia dos pergaminhos. Ela vos há de
inspirar sempre a delicadeza de sentimentos. Delicadeza de sentimentos é aversão
instintiva a tudo o que é vil e ignóbil, a tudo o que degrada, a tudo o que
pode empanar a pureza das inteligências e orações, da imaginação e dos
sentidos.
Delicadeza de sentimentos é ainda
horror a tudo o que é trivial e comum, nos gestos, nas palavras, nas ações, nas
atitudes.
Delicadeza de sentimentos é mais, é
sensibilidade viva a tudo o que é belo, a tudo o que é grande, a tudo o que é nobre;
é o desejo de dedicação e de sacrifício, o entusiasmo pelas grandes coisas, a
generosidade em imolar-se pela felicidade dos nossos irmãos.
Cultivai assim a honra e a delicadeza
dos sentimentos cristãos e tereis acendido a chama interior que alimentará a
vossa caridade ativa que resume o vosso decálogo – o fazer bem. A bondade é de
sua natureza expansiva. As almas boas irradiam o bem, naturalmente, como as
flores exalam o seu perfume.
Irradiai o bem, em torno de vós,
ativamente, continuamente, generosamente. Cada ação boa que fizerdes é mais uma
alegria que sorri na terra, é menos uma dor que chora.
Do pecado, cedo ou tarde nascem
lágrimas; só a virtude é mãe de felicidade verdadeira.
Felicidade no curso desta vida,
envolvendo a consciência contra as vicissitudes dos acontecimentos, numa
atmosfera interior de paz imperturbável. Felicidade na preparação ativa e
eficaz de um futuro melhor.
Sai o semeador, pelos fins do outono e
confia a sua pequenina semente à terra humilde e obscura.
Sobrevém o inverno. Aqui, nas nossas
regiões montanhosas, a gaza de uma bruma espessa, além, em outras zonas,
lençóis de neve parecem amortalhar tudo em fúnebre sudário. Mas o germe de vida
não perece. Deixai que a natureza desperte aos primeiros sóis de primavera e
vereis, como por encanto, os prados esmaltarem-se de flores, os pomares
opulentarem-se de frutos, as searas acariciadas pela brisa, ondearem louras
para a messe. E o lavrador, num olhar de complacência, contempla o fruto dos
seus trabalhos e abençoa as fadigas que, num momento, lhe pareciam estéreis.
A quadra da semeadura é a vida
presente. Com gesto esplêndido e liberal esparzi, ainda entre as lágrimas do
sacrifício, as sementes das boas ações. Um dia, estai certas, estas lágrimas
cristalizarão em brilhantes de fulgor inextinguível, estas sementes germinarão
nos encantos de uma primavera eterna, nas opulências de um outono sem termo.
E neste dia que não conhecerá ocaso,
entre os esplendores de uma vida melhor, abençoareis em hinos de reconhecimento
e de amor a hora bendita em que vos filiastes entre as bandeirantes do Sagrado
Coração de Jesus onde aprendestes a praticar a virtude com fidelidade
desinteressada, com entusiasmo sem intermitências, com a nobre generosidade das
almas profunda e sinceramente cristãs .
Rio, 5-IX-1927
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Padre Leonel FRANCA. A formação da personalidade, Rio de Janeiro: Agir, 1954, p. 242-244.
Pe. Leonel Franca (1893-1948)
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