“Constantemente surgem, na vida
diária, ocasiões de orientar para o sobrenatural. Os sinos tocam? É hora da
missa ou de um batismo, de um casamento ou de um enterro? Oportunidades todas
para comentários significativos. Um sacerdote visita a casa? Explica-se a
missão desse “homem de Deus”. Há um luto na família? É o momento de se abordar a noção da vida
futura. A visita aos doentes e aos pobres sugere conversas que levam ao
aprendizado das obras de misericórdia.
A oração à mesa feita pelo pai de
família, a oração da noite em conjunto (...), como se fazia outrora, são, por
certo, momentos fortes do trabalho educativo.
(...)
A bondade inalterável do pai é a
prefiguração do amor de Deus pelos seus filhos. O hábito de pedir desculpas
pelo mal feito prepara para o arrependimento e a confissão. A intimidade das
refeições é o símbolo da eucaristia.
(...)
Os pais deveriam, por esse motivo,
surgir sempre, na mente que vai amadurecendo, como símbolos dos valores mais
elevados. A religião, no jovem deveria estar ligada às lembranças do respeito e
do amor filiais. Com esse escudo ele resiste mais facilmente às dúvidas tão
frequentes no fim da adolescência.
(...)
A criança é mística; é um prazer para
seus olhos fixar símbolos do sobrenatural como admirar as maravilhas da Criação
Divina.
(...)
Outro meio formativo por excelência é
a história. A história é a vida da criança. Todas as mães, todos os pais
deveriam cultivar a arte de contar histórias e possuir um repertório rico de
feitos adequados à mente infantil. As histórias mais interessantes são as da
vida de Cristo, diz Gesell. O presépio de Belém, os três reis magos, os
pastores, o extermínio dos inocentes, a pesca milagrosa são episódios sempre
reclamados e sempre ouvidos sem fastio.
(...)
Certa mãe ensinava aos filhos a ver
nos raios e nos trovões os fogos de artifício do Pai eterno. Os meninos se
alegravam com as tempestades! Também não se recusavam a entrar no quarto escuro
porque lá estava o Anjo a noite toda de asas abertas, montando guarda, segundo
rezavam os ensinamentos maternos. Cada anjo tinha um nome, era invocado
pessoalmente, e era uma presença efetiva.
(...)
O hábito da oração deve ser adquirido
cedo. Oração pessoal com o vocabulário da idade. Oração que traduz louvor,
agradecimento, tristeza pelos erros cometidos. Pedido de ajuda para melhor
comportamento. O incentivo espiritual para a aquisição de hábitos de
sinceridade e de cooperação, de respeito à propriedade alheia, de trabalho e de
serviço, de bondade e de obediência, auxilia poderosamente (...) A liturgia,
sempre fascinante, pode ser explicada gradativamente.
A base da educação moral e religiosa
da criança é o exemplo dos pais, a influência do “caráter sobre o caráter, da
pessoa sobre a pessoa”. O conselho não tem eficácia se não for vivido. As
técnicas pedagógicas, por mais perfeitas, só darão resultado se informadas de
alto teor de espírito cristão e traduzidas em atos no cotidiano.
Orar juntos acentua, de maneira
indireta, a maior das responsabilidades dos pais e dos filhos; a de fazer
servir e amar a Deus. É fator decisivo de integração do grupo familial. Reforça
a autoridade dos pais. Justifica o sacrifício. É motivação – única e eficaz –
para as dramáticas sublimações que a vida moderna impõe. As festas da Igreja, o
estudo dos padroeiros da família, instalam tradições religiosas num plano
superior às tradições familiais.
Dessa forma, ao lado do mundo das
realidades humanas, vai se construindo o mundo das verdades eternas. São elas
as únicas forças capazes de deter a dissolução moral que vem avançando sobre a
nossa civilização materializada qual sombrio arauto da destruição. Ainda é
tempo de deter o cataclisma. A recristianização da família, a orientação
sobrenatural da tarefa dos educadores é a única solução para recuperar nosso
mundo secularizado. Os jovens têm urgência de elaborar uma razão válida para
viver. Sem um ideal superior como poderão fornecer esforço e superação, quando
as tentações de prazer são tão avassaladoras? Os movimentos universais de
redescoberta dos valores da vida de família são a resposta a essa exigência de
recristianização. “Só há um problema”, diz Saint- Exupéry, “ é o espiritual.”
Recorramos, pois, à pedagogia da consagração, ao hábito da sujeição amorosa à
Vontade de Deus, para alimentar o anseio da perfeição para a qual fomos
criados.”
*****
Maria JUNQUEIRA SCHMIDT.
Educar para a responsabilidade, Rio de Janeiro: Agir, 1974, p. 27 e ss.
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