sexta-feira, 2 de março de 2018

TELEVISÃO E DISSOLUÇÃO FAMILIAR


“A pretensa objetividade da televisão não existe, não pode existir. Como nos explicou Vladimir Lamsdorf-Galagane em um de nossos Congressos, toda informação é discurso, é opinião. Por objetiva que pareça, implica uma forma de pensar. No que diz respeito à família, tanto como objeto quanto como sujeito passivo, a televisão exerce uma clara influência ideológica, que determina tanto o que os membros da família pensam como o que a sociedade pensa e opina sobre a família. Em nosso país durante as últimas décadas, a Televisão foi um permanente agente a serviço da atual conspiração contra a família, exercendo um papel chave para a introdução e aceitação social do divórcio, do aborto, das relações pré-matrimoniais, e em geral, de todas as formas de erosão da família tradicional e cristã.
Ademais, a televisão opera sobre determinados esquemas mentais, capacidades cognitivas, estruturas perceptivas e sensibilidades preexistentes no indivíduo. Mas ao mesmo tempo que se ativam são modificadas pelo meio. A televisão produz um fenômeno de hiperestimulação sensorial, que leva a uma necessidade de estimulação sensitiva continua, que por sua vez provoca falta de concentração e uma visão fragmentada da realidade que foi denominada 'cultura mosaico'.
Enquanto a cultura tradicional era limitada nos conhecimentos, mas organizada, coerente, estruturada, a cultura mosaico se caracteriza pela desordem, a dispersão e o caos. A televisão favorece um tipo de conhecimento incoerente e descentralizado. Em um informativo, por exemplo, se passa da tragédia na Ruanda aos resultados da liga de futebol, e segundo depois um anuncio frívolo apresenta a felicidade fugaz através da aquisição de um perfume... A imagem televisiva potencializa, por outro lado, o pensamento visual, intuitivo e global contra a leitura, que estimula o pensamento lógico, lineal, sequencial. Por essa razão, ver televisão não requer concentração, senão apenas abertura. Se privilegia assim a percepção sobre a abstração, o sensitivo sobre o conceitual e, em definitivo, a implicação emotiva. Assim ocorre que as respostas que a televisão desencadeia são mais do tipo de “gosto-não gosto” do que “estou ou não estou de acordo”. O intuitivo e o emocional tende a prevalecer sobre o intelectual e racional, o que dá lugar a um estilo impulsivo de pensamento em lugar de um estilo reflexivo. Outrossim, a televisão potencializa o sentido de imediatismo e de dinamismo e, definitivamente, o sentido da impaciência ao oferecer uma satisfação imediata derivada do próprio significante, diferentemente da leitura, cuja gratificação é retardada por provir do significado e não dos signos do significante. Satisfação instantânea e hiperestimulação sensorial que a retroalimenta. E quando a experiência não é gratificante cabe sempre recorrer ao controle para mudar de canal.  As frustrações se produzem quando na vida não se pode mudar de canal tão facilmente, nem se pode acelerar o ritmo dos acontecimentos, vivendo com a impaciência do zapping* nos olhos e no coração.
Assim, a televisão é um catalizador do gosto do homem atual da mudança pela mudança e se opõe, evidentemente, ao forjamento do caráter e das virtudes, à capacidade de entrega, de sacrifício e autonegação que requer tantas vezes a vida familiar e a educação dos filhos".
***** 
Javier URCELAY ALONSO. Tevisión y Disolución Familiar, Revista Verbo, n. 339-340, Madri, pp. 995-997.

*Mudança rápida e consecutiva de um canal para outro, com o controle remoto, geralmente para evitar os intervalos comerciais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário