“A pretensa
objetividade da televisão não existe, não pode existir. Como nos explicou
Vladimir Lamsdorf-Galagane em um de nossos Congressos, toda informação é
discurso, é opinião. Por objetiva que pareça, implica uma forma de pensar. No
que diz respeito à família, tanto como objeto quanto como sujeito passivo, a
televisão exerce uma clara influência ideológica, que determina tanto o que os
membros da família pensam como o que a sociedade pensa e opina sobre a família.
Em nosso país durante as últimas décadas, a Televisão foi um permanente agente
a serviço da atual conspiração contra a família, exercendo um papel chave para
a introdução e aceitação social do divórcio, do aborto, das relações
pré-matrimoniais, e em geral, de todas as formas de erosão da família
tradicional e cristã.
Ademais, a
televisão opera sobre determinados esquemas mentais, capacidades cognitivas,
estruturas perceptivas e sensibilidades preexistentes no indivíduo. Mas ao
mesmo tempo que se ativam são modificadas pelo meio. A televisão produz um
fenômeno de hiperestimulação sensorial, que leva a uma necessidade de
estimulação sensitiva continua, que por sua vez provoca falta de concentração e
uma visão fragmentada da realidade que foi denominada 'cultura mosaico'.
Enquanto a cultura
tradicional era limitada nos conhecimentos, mas organizada, coerente,
estruturada, a cultura mosaico se caracteriza pela desordem, a dispersão e o
caos. A televisão favorece um tipo de conhecimento incoerente e
descentralizado. Em um informativo, por exemplo, se passa da tragédia na Ruanda
aos resultados da liga de futebol, e segundo depois um anuncio frívolo
apresenta a felicidade fugaz através da aquisição de um perfume... A imagem
televisiva potencializa, por outro lado, o pensamento visual, intuitivo e
global contra a leitura, que estimula o pensamento lógico, lineal, sequencial.
Por essa razão, ver televisão não requer concentração, senão apenas abertura.
Se privilegia assim a percepção sobre a abstração, o sensitivo sobre o
conceitual e, em definitivo, a implicação emotiva. Assim ocorre que as
respostas que a televisão desencadeia são mais do tipo de “gosto-não gosto” do
que “estou ou não estou de acordo”. O intuitivo e o emocional tende a
prevalecer sobre o intelectual e racional, o que dá lugar a um estilo impulsivo
de pensamento em lugar de um estilo reflexivo. Outrossim, a televisão
potencializa o sentido de imediatismo e de dinamismo e, definitivamente, o
sentido da impaciência ao oferecer uma satisfação imediata derivada do próprio
significante, diferentemente da leitura, cuja gratificação é retardada por
provir do significado e não dos signos do significante. Satisfação instantânea
e hiperestimulação sensorial que a retroalimenta. E quando a experiência não é
gratificante cabe sempre recorrer ao controle para mudar de canal. As frustrações se produzem quando na vida não
se pode mudar de canal tão facilmente, nem se pode acelerar o ritmo dos
acontecimentos, vivendo com a impaciência do zapping* nos olhos e no coração.
Assim, a televisão
é um catalizador do gosto do homem atual da mudança pela mudança e se opõe,
evidentemente, ao forjamento do caráter e das virtudes, à capacidade de
entrega, de sacrifício e autonegação que requer tantas vezes a vida familiar e
a educação dos filhos".
Javier URCELAY ALONSO. Tevisión y Disolución Familiar, Revista Verbo, n. 339-340, Madri, pp.
995-997.
*Mudança rápida e
consecutiva de um canal para outro, com o controle remoto, geralmente para
evitar os intervalos comerciais.
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