Por Pierre l'Ermite*
Vi um campo... Fora outrora
meticulosamente trabalhado. A boa semente fora semeada, tratada, vigiada.
Normalmente a colheita deveria ser soberba. Mas o cultivador possuía inimigos
encarniçados. Esses inimigos tinham direito de entrar no campo, de espezinhá-lo
e de nele lançar, dia e noite, a mancheias, as mais abomináveis sementes.
Chamava-se a isso a liberdade de imprensa.
Vi uma família... O pai e a mãe
existiam, sem existirem. Os chefes da família eram nomeados pelos filhos por
maioria de votos. Cada qual tinha um voto, o mesmo... os pequenos como os
grandes, os inteligentes como os imbecis... Os filhos olhavam ironicamente os
que em tom austero lhes recomendavam o trabalho, a ordem, a economia.
Mas, naturalmente faziam festas aos
que mais lhes prometiam férias, doces...e a lua.
Assim, quando votavam, os prudentes
eram relegados pelos espertalhões, pelos preguiçosos e pelos tolos. E a isso
chamava-se o sufrágio universal.
O abismo chama outro abismo.
Até agora somente os homens votavam.
Amanhã as mulheres, deixadas até então
na calma do lar, iriam, também elas, votar.
A fatalidade das premissas, postas
outrora pela revolução, devia dar nisso.
Depois dos direitos do homem, os
direitos da mulher. Era rigorosamente lógico.
Sem contar que - nem sempre, mas
algumas vezes, a mulher é bem melhor que o homem.
Então minada já pelo divórcio, atacada
pela recrudescência de egoísmo do tempo moderno, vai a família ser dividida por
um fator a mais.
E que fator! A política.
Em certos casos, toda a família votará
no mesmo candidato.
Muitas vezes, porém, o pai terá o seu
favorito, o filho, um outro; a mãe, o seu; a filha também o seu...
Imaginai o jantar da família depois
das eleições. Felizes os que possuírem louça de alumínio!
Devemos desencorajar-nos? Não... Nunca
nos devemos desencorajar. Desencorajar-nos, quando somos arautos de uma boa
causa, é duvidarmos de Deus, que quando quiser, reduzirá a nada todos os maçons
do mundo.
Dum spiro spero. A esperança, é o
oxigênio da alma. E, depois, folheando a história de meu pais, confesso
preferir viver em minha época a ter vivido no dia seguinte ao de Azincourt, ao
de Poitier, ao de Créoy e a muitas outras datas.
E principalmente, razão mais forte:
não posso escolher.
Deus fez-me nascer na época presente.
Não me exigirá contas senão do meu
tempo. Mas desse, exigir-me-á, de certo,
contas.
Vamos, pois, a ele. Vamos desde logo
com os meios de sempre. Com a oração, o preparo profundo do catecismo, a vida
paroquial intensa, as escolas, o recrutamento sério das vocações. Essa é a base
de todo trabalho para a conquista das almas.
Deprimir essa base por necessidade de
modernismo, é edificar sem alicerces e pretender que uma árvore possa viver sem
raízes. Completai, entretanto, o efeito dessas armas de sempre pelos meios
atuais. Nossos inimigos tanto nos dão o exemplo!
Com efeito, o exército é sempre o
exército, com a infantaria, a cavalaria, a engenharia, a artilharia. Seria,
porém, o exército moderno sem aviões, hidroplanos, dirigíveis, gazes, etc?
A paróquia é sempre a paróquia. Seria,
porém a paróquia moderna, se se imitasse a esperar tranquilamente os fiéis aos
pés das cadeiras da pequena Igreja? Seria uma paróquia moderna se não tivesse a
sua “União” para homens, sua “Liga” para senhoras, sua obra de imprensa, sua
biblioteca, um salão paroquial, um cinema, colônias de férias...
Toda paróquia, por menos importante,
deve tender para a totalidade desses armamentos.
E se todos esses meios forem postos em
obras com fé, método, perseverança, então, e então somente, nos tornaremos
interessantes aos olhos desse Deus, de que os tímidos tanto desgostam, a ponto
de preferir a ele, os próprios maus...
À obra, pois! Não espereis para
empreender, não há necessidade de ser bem-sucedido para perseverar. Deus não
nos pede senão o esforço. Ele pesa o menor dos nossos gestos de apostolado.
A vitória, isso é só com ele.
Se tendes fé, a grande fé dos grandes
apóstolos, então arrancar-lhe-eis o milagre necessário...
Essa fé, tende-a, dura, obstinada
mesmo, se o milagre custar..., mesmo que não seja concedido.
É diante da recusa de Deus que é belo
exclamar. Creio em Ti, de qualquer modo! Em tua bondade, em tua proteção por
uma pátria que não podes deixar de amar, porque é como o coração do mundo.
***
*Revista A Cruz, n. 34, Rio de Janeiro, 16 de agosto de 1925.
Nenhum comentário:
Postar um comentário