"Podemos dizer que Deus precisa dos santos, e especialmente de
Maria, porque nessas criaturas temos uma espécie de misericórdia que não
podemos ter no próprio Deus: uma misericórdia que, além de vir do amor, vem da
própria miséria. Por puríssima que seja, Maria é criatura, e como tal é
miserável. E é por isto – ouso dizer – que Deus precisa de Maria e dos santos
para o exercício de sua misericórdia e para o contato salvador com nossa
miséria.
Todos nós sabemos que Deus e o pecado são incompatíveis; mas
também sabemos que as mais belas tradições de nossa história revelam um como
que privilégio dos pecadores, ou uma inconcebível espécie de atração de Deus
por nossa miséria. Quase diríamos que a marca do cristianismo é a de uma
atrevida predileção pelo pecador. Como pode ser isto? Os evangelhos contam o
amor de Jesus por Madalena, e nos apresentam a parábola do publicano. Jesus
veio salvar “o que estava perdido”. Sua Igreja é uma casa-de-saúde. Seus
prediletos são os pecadores, ou ao menos os que se reconhecem como tais. Na
cruz, o primeiro santo canonizado é o bom ladrão. E daí por diante abundam as
histórias em que os grandes pecadores interessam instantaneamente às almas de
eleição. Santa Catarina correu a visitar o jovem Tuldo em seu cárcere, e
recebeu sua cabeça decepada e seu sangue, gritando: “Io voglio!” Santa
Teresinha do Menino Jesus teve seu primeiro protegido num assassino que mereceu
pena de morte: por intercessão de suas fervorosas orações o pobre monstro
humano, a dois passos do cadafalso, voltou-se bruscamente e beijou com lágrimas
a cruz que um padre lhe oferecia.
Em todas essas histórias tem especial relevo a intercessão
de Maria, refúgio dos pecadores".
Gustavo Corção. A Igreja do céu, Revista Permanência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário