“Aí está - dizia eu - a verdade do homem. Ele só existe para a sua alma. À testa da minha cidade, porei poetas e padres. E eles farão desabrochar o coração dos homens” (Saint-Exupéry. Cidadela, XXI).
quinta-feira, 9 de julho de 2020
O som das moedas
Santo Ivo era bretão,
advogado e não ladrão,
Isto enchia todo o povo
de grande admiração.
Vivia ele na França
quando São Luís reinava
e em plena Universidade
Tomás de Aquino brilhava.
De advogado, Santo Ivo
logo juiz se tornou
e ainda bispo por cima
a Santa Igreja o ordenou.
Sucedeu que um belo dia
certo padeiro zangado
veio até ele arrastando
atrás de si um coitado.
- Este mendigo (dizia),
assando eu o meu pão,
ficou pertinho cheirando
com grande satisfação.
Quando fui cobrar-lhe o cheiro,
ele nada quis pagar;
por isso, ludibriado,
venho ao bispo me queixar!
- Dá-me então o que tiveres!
o bispo ao pobre ordenou,
e o coitado, nas mãos dele,
sua bolsa esvaziou.
Então Ivo sobre a mesa
as moedas foi lançando
uma a uma, e o som de todas
foi no espaço ressoando.
Mas quando, para apanhá-las,
o padeiro estende a mão,
segurou-lhe o bispo o braço
e declarou: - Isto não!
Se, sem comer o teu pão,
ele somente o cheirou,
o simples som das moedas
sua dívida pagou...
Dom Marcos Barbosa. Poema para as crianças e alguns adultos. Rio de Janeiro: 1944. p. 92-93.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário